Taxa básica de juros foi cortada para 6% ao ano, mas inflação projetada para os próximos 12 meses leva juros reais do Brasil para meros 1,63%; país está em 8º no ranking mundial
Por Gustavo Ferreira, Valor Investe — São Paulo
01/08/2019 14h16 Atualizado há 20 horas
foto:GettyImages
A Selic foi cortada pelo Banco Central para 6% ao ano, o menor nível de juros do Brasil em todos os tempos. Mas, na prática, pelos próximos 12 meses, a taxa básica de juros no Brasil será ainda menor, de meros 1,63% ao ano.
Que papo é esse? Acontece que a Selic estipulada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central é a chamada taxa nominal de juros ao ano, que não considera inflação durante o período.
Já a taxa de juros real de 1,63% ao ano, calculada pela Infinity Asset, traz para a conta a projeção do ritmo de preços pelos próximos 12 meses.
Esse é um cálculo mais preciso sobre o seu retorno em títulos pré-fixados, por exemplo. Afinal, considera quanto você também vai perder de poder de compra ao deixar parte do seu dinheiro de lado, rendendo com papéis do Tesouro Direto.
Na comparação mundial, como já mostramos no Valor Investe, o Brasil pratica o sexto maior nível de juros nominais do mundo.
Mas, se considerarmos a inflação e, portanto, o que de fato acontece com o bolso de quem busca retorno nos juros básicos, descemos duas posições entre as principais economias do planeta, para o oitavo lugar.
Veja aí o levantamento completo:
Reparou que a Argentina está na ponta, com os maiores juros reais do planeta? Demonstra bem a draga vivida pela economia de nossos vizinhos.
Afinal, quanto maior o risco de aplicar seu dinheiro e perder tudo lá na frente, maior o retorno exigido.
Num cenário de juros rastejantes pelo mundo, é péssimo sinal de saúde econômica uma taxa real acima dos 5%.
Aliás, os emergentes ganham de lavada quando o assunto é juros reais altos. Na sequência, vêm México, Indonésia, Rússia, Turquia… Todos do lado direto do gráfico, ainda no mundo dos juros reais positivos.
De novo: quanto maior o risco, maior o retorno. Se essas paragens são menos sólidas, é natural que precisem oferecer mais retorno que as economias mais sólidas (à esquerda no gráfico, no incrível mundo dos juros reais negativos) em troca de capitais.
Você investiria seu dinheiro, por exemplo, nos títulos de dívida argentinos, caso oferecessem por lá juros reais negativos de 0,76%?
Esses são os juros reais praticados pelos Estados Unidos, considerada a economia mais a prova de balas, digamos assim, do mundo.
fonte: https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2019/08/01/selic-de-6percent-brasil-tem-na-pratica-juros-abaixo-de-2percent-ao-ano.ghtml